A Vale é um enorme transtorno ao país. E não está nem aí com isso

A tragédia de Brumadinho já havia sido anunciada pelo descaso de Mariana

Adriano Machado/Reuters – 27.01.2019


Duas perguntas devem ser respondidas para o bem e o futuro do país: quando a empresa vai pagar pelas tragédias e quando seus dirigente serão presos?

Talvez poucos se lembrem, mas anos antes de ter seu nome associado a duas das maiores tragédias ambientais e humanitárias da história do Brasil, Mariana (novembro de 2015) e Brumadinho (janeiro de 2019), a Vale recebeu em 2012 o vergonhoso título de pior empresa do planeta. A premiação batizada de “Public Eyer People’s” foi criada pelas ONGs Greenpeace e Declaração de Bernia.


Honraria às avessas destinada a empresas citadas por sistemáticas violações dos direitos humanos, por proporcionarem condições desumanas de trabalho e maltratarem duramente a natureza. Na ocasião, a Vale conseguiu vencer a Tepco, gigante da energia no Japão, responsável pela usina de Fukushima no Japão. Antes de Mariana e Brumadinho, a Vale já era um desastre em âmbito mundial.

Com a reputação manchada, a Vale se mantém com sua autoestima sem arranhões, pelo menos do ponto de vista dos seus executivos milionários e dos seus balanços de lucros estratosféricos celebrados sob o ar condicionado da sua sede carioca. Mas a Vale é um transtorno para o Brasil e se nega a dar respostas efetivas aos danos irreversíveis que causou. Até agora, 169 mortos em Brumadinho, 19 em Mariana, onde o rompimento da barragem do Fundão, que a Vale operava via Samarco Mineiração, impactou a vida de 1,5 milhão de pessoas que vivem no entorno do rio Doce, implacavelmente contaminado por uma lama tóxica que chegou até ao mar. No curso  do rio estão 200 municípios que dependem economicamente dele e foram severamente afetados no turismo e na pesca. Das 200 espécies de peixes que habitavam o rio mais de uma dezena podem ser extintas. E até hoje 400 famílias aguardam a reconstrução de suas casas. O subdistrito de Bento Rodrigues foi simplesmente varrido do mapa, e o mesmo aconteceu com as comunidades de Paracatu e Gesteira, mas a Vale continua intacta. Ninguém foi culpado pela tragédia, as multas ambientais pagas foram irrisórias.


A partir da barragem do Fundão, a direção da Vale criou o gongórico lema “Mariana nunca mais”. Veio Brumadinho, ainda mais devastador com quase duas centenas de mortos e imagens ainda mais chocantes de corpos calcificados pela lama. Como Mariana, sirenes de alerta não foram ouvidas e todos ficaram órfãos no desepero. Apenas responsáveis por emitir o laudo de segurança da barragem foram presos, mas os principais executivos, inclusive seu presidente Fabio Schvartsman, continuam a contrariar as regras mais simples da compaixão humana leves, livres e soltos. Num encontro na Cãmara Federal, Schvartsman foi o único a permanecer sentado num minuto de silêncio pelas vítimas de Brumadinho, que até agora tem sido contempladas com assistenciais pontuais que são nitidamente insatisfatórias diante de tamanho estrago.

Nome e sobrenome das maiores tragédias recentes do País, a Vale deve respostas. A questão é que quem  deve cobrá-las se cala. Quase nenhum político se ergueu em cobrar energicamente a empresa, que se fartou em distribuir doações para campanhas políticas, o que pode explicar o silêncio tão obsequioso diante dessa fileira de cadáveres, e as aplicações de multas e bloqueios feitas pela Justiça parecem ainda sem efeito. No caso da Tepco japonesa, ainda há um tsunami para justificar tantos danos. No caso de Mariana e Brumadinho, o tsunami é a Vale.

O Brasil precisa agora essencialmente de duas respostas: quando a Vale vai pagar pela tragédia que devastou duas cidades e matou quase duas centenas de pessoas e quando seus dirigentes e responsáveis irão para a cadeia? Destas respostas dependem a construção de um país mais digno.

Agradecemos pelo seu apoio!

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